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Um ar de sua Graça

Se o arrependimento matasse…

As floreiras fazem parte das minhas memórias de infância. Havia-as em casa dos meus avós maternos e paternos.


Consideravam-nas tão utilitárias como decorativas e era frequente elas servirem de adereço em sessões fotográficas. Se não acreditam podem comprovar a veracidade desta minha afirmação nesta foto tirada em casa dos meus avós paternos, Joaquina e Chico, onde a minha pessoa, com cinco aninhos, posa para a posteridade ao lado de uma.

 

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Recordo-me destas floreiras, tanto na casa de uns como de outros, ornamentadas com grandes fetos que enchiam as salas de verde e frescura.


A floreira da casa dos meus avós maternos veio parar cá a casa. Pedia-a à minha mãe e tenho-a há bastantes anos. É uma forma de manter o “cordão umbilical” com as pessoas, os espaços, as memórias de outrora.


Mas a velha floreira é mesmo uma floreira velha. No sentido literal do termo. Se eu gosto da floreira, o bicho da madeira gostou dela tanto quanto eu e, a pouco e pouco, muito lentamente, tem-na  devorado.  Apesar de ter levado um tratamento este revelou-se ineficaz e está irremediavelmente perdida. Mal se lhe toca, vai-se partindo. Por essa razão, decidi comprar uma e já começara a minha prospecção pelas feiras de velharias.


Eis senão quando…


Certo dia o meu sogro, num dos seus passeios higiénicos pela cidade, encontrou uma floreira mesmo encostada ao contentor do lixo. Com o seu olhar clínico e experiente, logo se apercebeu que a peça era de boa madeira e que estava em excelente estado de conservação. Pegou nela e levou-a para casa…


Entra em casa todo contente com a aquisição…


A minha sogra olha para ele e desconfia… E pergunta:


-Mas onde é que arranjaste isso?


Quando o meu sogro lhe responde que fora no lixo, a minha sogra ia tendo uma síncope.


-No liiiiixo???!!!  Sabe-se lá de quem isso era! E se era de alguém com uma doença contagiosa???!!!


Estavam os dois nesta discussão, um querendo a floreira lá em casa, o outro a querer recambiá-la de lá para fora. Nisto, cheguei eu.


Vejo a floreira e os meus olhos brilham, ouço campainhas a tilintar. Uma floreira? Era mesmo uma daquelas que eu andava à procura.


Disse que gostava dela. Olham os dois para mim como uma tábua de salvação. O meu sogro, satisfeito, porque havia alguém que compreendia a sua operação de resgate.

 

A minha sogra, satisfeita, porque havia alguém que lhe libertava a casa daquele objecto infecto.    

 

E a floreira do lixo  mudou de casa. Para a minha.


Durante anos esteve tal e qual como veio, ostentando o seu belo tom de castanho dourado.Olhava para ela e lembrava-me das outras, das dos meus avós.


Mas um dia, quando me chegou a mania das pinturas, decidi pintá-la.

 

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Na altura fiquei muito satisfeita com o resultado. Foi dos primeiros pequenos móveis que pintei e achei que não me saíra mal. Mas com o passar do tempo, fui sentindo, algo de estranho, quando olhava para ela. Perguntava a mim própria o que seria. Continuava a gostar dela? Claro que sim. Gosto mesmo bastante dela.


Mas…  


Pensei, reflecti e descobri.


Esta floreira, assim pintada de verde é outra floreira completamente diferente. É outro móvel, tem outra história. Já não tem a história que eu desejava que tivesse.


Já não me faz lembrar as velhas floreiras que conheci em casa dos meus avós.


Perdeu um pouco do seu carácter, perdeu um pouco da sua alma.


E é pena!

 

 

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Melhor do que ir à loja

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Ora digam-me lá… onde é que habitualmente se vai quando é preciso mobilar uma casa?


Pois… é isso mesmo! Vamos às grandes superfícies que vendem de tudo ou a lojas de decoração mais exclusivas. Tal e qual!


Só que com a mais nova cá de casa não foi exactamente assim. Onde é que a minha filha se foi abastecer quando começou a mobilar o seu cantinho?  


Pois nada mais, nada menos do que à garagem cá de casa!


E, a pouco e pouco, foram saindo de lá a cama de ferro antiga que foi da minha mãe e o respectivo colchão, duas cadeiras, a máquina de costura do pot anterior, uma pequena mesa redonda, outra pequena mesa que serviu para pôr o telefone em casa dos meus sogros, uma mesa de cozinha e um pequeno armário. Bem melhor do que ir ao Ikea! É que aqui não foi preciso pagar à saída.


Tudo isto na garagem? É fácil explicar porquê.


Tenho dificuldade em desfazer-me dos objectos. Apego-me a eles, encontro-lhes sempre algum significado, algum encanto, alguma história, alguma recordação.


Quando alguma peça de mobiliário deixa mesmo de se enquadrar no nosso espaço prefiro oferecê-la a quem precise. Outras foram lá guardadas à espera de novas oportunidades.


É das duas últimas peças referidas - a mesa de cozinha e o pequeno armário - que venho falar hoje. Foram para a garagem quando mudámos de casa, há já uns vinte anos. A mesa não se enquadrava na actual cozinha e, quanto ao armário, já não gostava dele.


E foi assim que passaram a habitar a cozinha da minha filha. Lá, em cima de cartões para não sujar o chão, demos-lhe um novo visual para disfarçar a passagem do tempo. Pintámos mesa e armário com as mesmas cores uma vez que se destinavam ao mesmo espaço - branco e verde - com tinta Chalk Paint e depois aplicámos cera.

 

Estas tintas são ideais para aplicar técnicas, tais como a pintura shabby chic e a pintura provençal que dão às peças um ar envelhecido. Mas a minha filha não aprecia. Gosta que tudo fique com um ar novinho, para velho deixa-se como está…


Não deixa de ter alguma lógica!   

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Histórias de velhas máquinas de costura

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Gosto de objectos antigos. De velharias. De simples peças do quotidiano que marcam uma época, que contam histórias, que transportam memórias.


Amo, sobretudo os “meus” objectos. Aqueles que na minha família, de geração em geração, chegaram até mim, me ajudam a perceber de onde vim e quem sou. Objectos que contextualizam a minha maneira de estar na vida.


Têm valor monetário? Não, mas que importa isso?


Para mim estão carregados de um valor simbólico e afectivo muito mais valioso de que qualquer valor económico. Destes objectos carregados de significado há um que aprecio particularmente. A máquina de costura da minha avó. A máquina da minha avó está ainda em perfeito estado de conservação e ainda cose na perfeição.


Lembro-me perfeitamente da minha avó sentada junto dela a fazer as costuras necessárias para o dia-a-dia. Panos da loiça, guardanapos, aos quais ela acrescentava sempre um toque pessoal fazendo um pequeno bordado e um picô.


Recordo também com saudade a menina Quitas, costureira que vinha a casa das clientes e me costurava vestidos, pijamas, bibes.


Embora hoje já ninguém utilize a máquina da minha avó, espero que ela se mantenha assim, tal e qual está, por muitos e bons anos, como peça decorativa.


Mas havia outra. A da minha sogra. Esta, no entanto, acusava a passagem do tempo. Pés enferrujados, tampo muito danificado, cabeça salpicada de manchas. Já nem cosia. Foi parar à garagem à espera de melhores dias e de alguma inspiração.


E esse dia chegou.


A minha filha e eu arregaçámos as mangas. Retiramos-lhe a cabeça e levámos a máquina a um carpinteiro que retirou o tampo velho e fez um novo, maior, com gaveta ao meio. Feito isto, carregámo-la para casa e deitámos mão à obra. Retirámos a ferrugem, lavámos tudo muito bem lavado e depois passámos à fase da pintura.


Que prazer ver a nossa peça a ser transformada, a ficar como a idealizámos! Deu trabalho, muito trabalho, por vezes colocando-nos em posições acrobáticas para pintar os sítios mais inacessíveis.


Pusemos um puxador colorido na gaveta.


E a velha máquina de costura da minha sogra transformou-se numa secretária.


É agora utilizada pela minha filha que se senta na cadeira que pertenceu ao quarto de solteiro do pai e que também foi pintada por nós.


Tudo em família e da família!

 

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Um trabalho perfeito

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No post anterior referi-me à Lena de Era uma vez.

 

A Lena dedica-se à recuperação e restauro de móveis e decoração de interiores.

 

É uma excelente profissional, de muito bom gosto e tenho grande apreço por tudo o que faz. Cá para casa, ou melhor, para a casa da minha filha pintou uma velha cama de ferro que pertenceu à minha mãe e as respectivas mesas de cabeceira.

 

Um trabalho perfeito.

 

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Era uma vez um espelho dourado…

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Era um antigo espelho dourado que veio da casa dos meus sogros. Gosto dele desde sempre. É elegante, de boa qualidade, em excelente estado de conservação. E de um ouro velho que assinalava a passagem do tempo.

 

Quando a minha filha começou a decorar a casa dela perguntei-lhe se o queria. Como anda em contenção de custos, tudo o que vier de graça é bem vindo.

Olhou para mim de esguelha… Olhou para o espelho como se o visse pela primeira vez, examinou-o de perto e de longe, equacionando-lhe as potencialidades. Depois sentenciou:

 

- Gosto dele mas dourado nem pensar! Podias pintá-lo.

- Pintá-lo? Vou assassiná-lo!!! – retorqui.

 

Depois de muito pensar, meti mãos à obra. Usei tinta Chalk Paint que tem a particularidade de não precisar de uma preparação prévia da madeira. Evita as lixadelas que fazem uma poeirada desgraçada. A peça só precisa de estar impecavelmente limpa para que a tinta tenha uma boa aderência.

 

Et voilá…! Lá está ele agora completamente transformado na parede de entrada da casa da Margarida. Mas deu-me algum trabalhito!

 

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A Lena do Era uma vez, com o seu olhar clínico, especialista no assunto e inquestionável mestria deve estar a levar as mãos à cabeça … com o assassinato do espelho da minha sogra. Lena, desculpe lá…

 

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