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Um ar de sua Graça

A Páscoa não tarda aí

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À excepção do Natal nunca tive o hábito de decorar a casa de acordo com as épocas, quadras, ou estações do ano.


As minhas prioridades e interesses eram outros e não tinha qualquer disponibilidade para pensar no assunto.


Relativamente à época pascal limitava-me a espalhar amêndoas e ovos de chocolate   colocados em pequenas taças ou frascos de vidro. Coloriam a sala. Alegravam os miúdos.


Depois, o ritmo frenético da vida abrandou. Os compromissos imperiosos, os prazos definidos para ontem cessaram. Surgiram outras prioridades, algumas não menos absorventes e não menos prementes.


E neste meu universo por vezes um pouco opaco vou procurando rasgar pequenas janelas que tragam luz ao meu horizonte.
Os momentos de calma e de bem-estar encontro-os nas agulhas e linhas, enquanto vou criando pequenos projectos que me inspiram e, principalmente, me divertem. E dizem os entendidos que o crochet e o tricot são essenciais para que nos mantenhamos saudáveis quer física quer emocionalmente e que aumentam a nossa produtividade e agilidade mental.  


Quero crer que assim seja!


E assim, todos os pretextos são bons para pôr as mãos na massa ou, dizendo por outras palavras, para por as mãos nas agulhas e nas linhas.
Um painel em crochet simbolizando o Outono, uma manta em lã para aconchego no Inverno, outra em fio de algodão para refrescar a cama no Verão, almofadas em tricot e crochet para o conforto no sofá, foram pequenos trabalhos que foram nascendo das minhas mãos.  


A casa ganha cor e renova-se. Foge-se à monotonia de ver sempre o mesmo, sempre tudo igual e no mesmo sítio.


A Páscoa não tarda aí. E pela primeira vez, esta quadra foi motivo de inspiração. Transformei-me em galinha poedeira e nestes últimos dias foram vários os ovos que fui pondo pela casa. Mais uns passaritos por aqui mais um coelhito por ali e a decoração vai ganhando forma. Nunca está concluída. Cada dia vai surgindo algo de novo. Ao sabor da imaginação.


E assim se vai aliando o sagrado e o profano nas celebrações pascais cá de casa.

 

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Um post politicamente incorrecto

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Nada de confusões! Não venho falar de política embora o título possa induzir em erro. Mas…

 

Pouco depois do 25 de Abril, sim refiro-me à revolução, muito boa gentinha procurava parecer o que não era. Se até aí tinham hábitos a que os revolucionários apelidavam de “burgueses”, como jantar em bons restaurantes, vestir roupa cara, usar belas jóias, procuraram disfarçadamente passar uma borracha sobre esse passado “comprometedor”.

 

Não querendo que lhes chamassem os nomes feios que na altura, a torto e a direito, se ouviam nas ruas, todos queriam ser, ou parecer do povo. Os homens abandonaram a camisa branca, a gravata, deixaram crescer o cabelo, a barba, o bigode. Um ar de desleixo caía bem. As senhoras guardaram as peles nos confins dos armários, esconderam as jóias, vestiram calças de ganga, camisas de flanela aos quadrados, compridonas, horrorosas e, pasme-se, calçavam socas com meias grossas!

 

Eu, que sempre gostei de me colocar à parte observando o comportamento humano, divertia-me imenso com  todas estas metamorfoses e  com este “antes” e “depois”. Ora acontece que, a dada altura, alguém se terá lembrado de sair à rua com um enorme xaile preto. Talvez numa imitação das velhinhas das aldeias que quando iam à missa ou à feira se embrulhavam em espessos xailes de lã.   E, de repente, virou moda. Era ver na rua, nos transportes, na faculdade jovens e senhoras de todas as idades embrulhadas nestes longos xailes de franjas compridas. Eram em croché, todos em abertos ou de abertos e fechados mas sem formarem qualquer desenho. Muito, muito simples.

 

Até lhes achei piada. Crochet era comigo! E decidi fazer um. Pareceu-me que seria uma boa ideia para usar nas madrugadas frias quando tinha aulas logo às 8 da manhã.Mas só de abertos ou de abertos e fechados sem formar qualquer desenhinho era demasiado simplista para a minha pessoa. E decidi dar-lhe um ar da minha graça. Pesquisei nas revistas “Para Ti” da minha mãe. E lá encontrei um esquema com uma barra de rosas e rosinhas mais pequenas no centro. Fi-lo em três tempos. Ficou engraçadinho.

 

Mal o acabei, lá vou eu bem enroladinha nele para a faculdade.

 

Então não é que me senti incomodada durante todo o dia? Como era demasiado grande tolhia-me os movimentos, o fio escolhido não era assim tão quente como imaginara e, acima de tudo, sentia-me como “ mais uma ovelha do rebanho”. Chegada a casa, o xaile foi parar a uma gaveta e nunca mais voltou a ver a rua… Lá ficou para sempre.

 

Ah! Minto! Foi usado uma vez pela minha filha, quando, na escola primária participou numa peça de teatro e desempenhava o papel de uma velhinha! Mas confesso, sempre gostei daquele motivo de rosas. Passei o esquema para papel quadriculado e iniciei há dias um novo xaile num fio bem mais fofo e quentinho.Espero vir a embrulhar-me nele nos serões de inverno a fazer crochet ou tricot…     

 

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Um casaco feito a quatro mãos

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Há muito, muito tempo quando eu era criancinha, as lojas de pronto a vestir infantil eram praticamente inexistentes. Meninos e meninas andavam mais ou menos bem vestidos, com mais ou menos bom gosto, consoante as possibilidades económicas da família ou a habilidade das mães. As famílias abastadas contratavam bordadeiras, tricotadeiras, costureiras, que bordavam, tricotavam, costuravam as roupinhas das crianças.


A minha mãe não precisava de recorrer a ninguém. Ela bordava, ela tricotava, ela costurava. No entanto, por norma, recorria a costureiras para confeccionarem os vestidos, saias, casacos. Mas os pormenores eram com ela. E eu, modéstia à parte, andava sempre muito bem vestidinha, usava peças exclusivas e únicas que saíam da imaginação e das mãos da minha mãe.


Está neste caso este casaco de malha. Foi tricotado quando eu tinha dois anos. A minha mãe pretendia bordá-lo mas não havia em revista alguma desenhos que a motivassem. Ou porque não se adequavam à temática infantil ou porque eram demasiado grandes para um casaco tão pequeno. Desabafou com o meu pai a sua desilusão.


-Se não há motivos que te agradem para o casaco, então desenho-os eu!


Convém acrescentar que o meu pai até tinha jeitinho para desenhar e gostava de fazê-lo. E assim foi. O meu pai muniu-se de lápis e papel, a minha mãe foi dando ideias e, numa harmoniosa parceria, os desenhos foram nascendo, e a composição ficou definida. Depois, a fase seguinte pertenceu à minha mãe. Escolheu as lãs, as cores, ensaiou os pontos. E bordou o casaco.

 

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Conta a minha mãe que o meu pai, ao contrário do que era habitual, desta vez seguia atentamente todo o processo de execução do bordado. Encantava-se vendo nascer os pintainhos, o barco a navegar nas águas tranquilas, as velas do moinho que pareciam girar ao sabor do vento, o menino e a menina que estavam prestes a saltitar ao encontro um do outro para brincarem juntos. Esta obra era também um bocadinho dele.


Quando me via com ele vestido enchia-se de orgulho pela co-autoria. Usei o casaco até já não caber nele. Depois foi cuidadosamente guardado pela minha mãe que o envolveu em papel de seda, dentro de uma antiga arca onde continua até aos dias de hoje.

 

Apesar de muito velhinho, gosto muitíssimo dele e sempre que o olho sinto uma vontade enorme de tricotar e bordar um casaco inspirado nele. Mas não tenho netos… Enfim… fazendo o casaco já não falta tudo…!

 

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Os meus presépios

Já por aqui deixei escrito que foi a minha filha que me estimulou a realizar trabalhos em feltro.


Estava numa fase da vida em que necessitava de ocupar as mãos para libertar a mente e lavar a alma. Em momentos de grande stress ou cansaço, nada melhor do que ter as mãos ocupadas. Não conheço melhor terapia. À falta de melhor, nem que seja a arrumar roupeiros. Mas aprecio algo mais criativo.


O Natal avizinhava-se e a minha filha sabendo da minha paixão por presépios mostrou-me alguns que encontrou na internet. Achei-lhes graça. Não mexia em agulhas e linhas há uma eternidade. Mas se naquele momento procurava algo que me ajudasse a ultrapassar as tempestades da vida, que importância tinha a imperfeição da peça executada?

 

Absolutamente nenhuma! E comecei por este presépio.

 

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Não precisei de moldes. Olhei para a imagem no computador e desenhei-o. Os pontos saíram incertos, um mais abaixo outro mais acima. A distância entre eles também variava. Mas fiquei feliz. Era a minha primeira obra. E percebi que fazer estes trabalhos era pura terapia. Sentia-me mais relaxada e entusiasmada. Cheia de ideias. Era por ali o caminho. E todos cá em casa, satisfeitos com o meu entusiasmo, até me faziam acreditar que de verdadeiras obras de arte se tratavam.   


Seguiram-se outros presépios. Os pontos foram ficando mais certinhos e fui criando os meus próprios modelos.

 

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Os mais bonitinhos e perfeitinhos foram oferecidos a familiares e amigos. E desses não tenho fotos. É que a ideia do blog ainda não nos tinha ocorrido… Ponto… Pára tudo…


Já sei o vai por aí…


Vislumbro um sorrisinho ao canto dos vossos lábios; adivinho o que vos vai no pensamento:


“ Olha para esta, sabe-a toda! Que grande espertinha! Como não tem fotos diz que os presépios até ficaram perfeitinhos!!!”


Depois experimentei outras técnicas. Mas tenho um defeito. Faço apenas para experimentar. Usei pasta de modelar – fiz apenas um presépio; pintei numa pedra da praia – fiz apenas um; Usei pauzinhos – fiz apenas um; Fiz em crochet – fiz apenas dois…  E assim não aperfeiçoo nenhuma das técnicas!

 

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Presentemente gostaria de treinar os presépios em crochet. Vejo-os lindos mas não são tão fáceis de fazer como parecem.


O último presépio aqui apresentado foi terminado há poucos dias e feito muito, muito à pressa. E, muito encarecidamente, peço-vos o de  favor de não reparem na ovelha ou, para ser mais exacta,  na pseudo-ovelha. É que a pobrezita saiu-me com focinho de rato, orelhas de porco e patas de escadote… Foi o melhor que se pode arranjar. Muito agradecida…

 

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E já agora, para todos vós, um feliz Natal com muita Saúde Paz e Harmonia.

Nada que o crochet não resolva

Era Inverno e fazia frio. Saí de casa com um blaser verde garrafa e um cachecol novinho, a estrear. Cor de laranja.


Gostei da combinação das cores contrastantes. E sentia-me toda contente com esta minha nova aquisição.


Quando cheguei a casa a recepção do costume. A Leila, a nossa cadela, festejou a minha chegada. Correu, rodopiou, foi buscar o brinquedo de estimação e saltou, saltou, saltou para cima de mim.  Haja quem fique feliz com a minha chegada e se manifeste tão exuberantemente. Ninguém, como os nossos animais de estimação, nos faz  sentir tão especiais e únicos. Podemos ausentarmo-nos dez minutos, dez dias ou dez semanas que     a recepção é sempre celebrada com a mesma alegria esfusiante.


Só que desta vez, os festejos não correram lá muito bem. Num dos saltos acrobáticos a Leila ficou com uma unha presa no meu cachecol novinho em folha.


E conseguir tirar a unha da malha? Foi o cabo dos trabalhos. Quanto mais a Leila se debatia para se libertar, mais presa ficava a unha na malha ou a malha mais se prendia à unha. Nem sei qual das duas situações seria mais exacta. O que sei é que cada vez eram   maiores os puxões. Temi o pior! Era o fim do meu rico cachecol!

 

Depois de muitos esforços lá  consegui desenfiar a unha. Mas o cachecol, coitado parecia um passador, com uma série de buracos de diversos tamanhos. Fiquei inconsolável.
Como disfarçar os estragos? Aconselhei-me com a minha mãe. As mães encontram sempre soluções para tudo.


-Traz cá o cachecol. Vamos lá ver o que consigo fazer!


E o dito lá viajou para a casa da minha mãe. Dias depois disse-me que estava pronto.


E o resultado aqui está. Quando voltei a usá-lo, foi um sucesso. Muitas amigas me perguntaram onde o tinha comprado. Queriam um igual     

 

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Vestir a casa com as cores de Outono

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Gosto do Outono. Bastante. No entanto, nem sempre foi assim.


Quando era menina e moça, o Outono era a estação do ano de que menos gostava. Por tudo aquilo que simbolizava. O Outono era o tempo de todas as finalizações, o fim de tudo aquilo que me fazia feliz. Das férias grandes, dos dias quentes e infindáveis, da ausência de compromissos, do tempo sem relógio.


Com o Outono, o retomar das rotinas, dos horários a cumprir, das corridas diárias, das obrigações, das noites longas sem fim, provocavam-me uma certa nostalgia.
Com o decorrer do tempo, e o avançar da idade, aprendi a saborear o Outono, a apreciá-lo na sua essência.


Gosto do Outono. Bastante.


Aprecio as cores. Os verdes desmaiados das folhas de algumas árvores que tão bem combinam com os tons secos e amarelados de outras. Gosto das folhas dos plátanos que se desprendem dos ramos, amarelecidas e avermelhadas. Assistir ao seu bailado ao sabor do vento, em remoinho, para depois serenarem atapetando o chão.


E os cheiros? Que bálsamo para a alma.


O cheiro a castanhas assadas, o cheiro a terra molhada, o cheiro das plantas orvalhadas, o cheiro da lenha a arder nas lareiras.


Gosto do Outono. Bastante.


Das manhãs enevoadas, das tardes de chuviscos, da frescura dos dias, das noites intermináveis.


Gosto do Outono. Bastante.


Por tudo isto resolvi trazê-lo para dentro de casa e vesti-a com as suas cores.


Comprei uma tela, fui buscar o cesto dos novelos e escolhi as cores que me lembram esta estação. Fui crochetando flores, folhas, troncos, bolotas  e um  vaso.
Depois… colei.


Sou eu e o MacGyver… Ele com o canivete e eu com o tubo de cola somos verdadeiramente imbatíveis…


Há quinze dias que está pendurado no corredor. Por um tempo limitado. É que, não tarda nada, está aí o Natal e outro quadro ocuparará o seu lugar.

 

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Nota: Esta descrição do Outono não passa, infelizmente, de pura ficção. O Outono tem andado por outras paragens, não por aqui. O Verão teimou em ficar, quente, abrasador, destruidor, mortífero. E um país vai desaparecendo aos poucos.   

Sua excelência a cozinha

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A cozinha, de novo. A cozinha como coração da casa. Como ponto de encontro. Local de conversas, risos, histórias de família e até local de tomada de decisões importantes.

 

 A Cozinha da minha infância é um pouco de tudo isto. 

 

Eram assim as cozinhas dos meus avós, tios, primos. Quentes, aconchegantes, com grandes lareiras onde o lume crepitava e as chamas se destacavam nas paredes pretas de fuligem. Pequenos pontes de luz que se libertavam chaminé acima, lembrando pirilampos. Panelas de ferro fumegantes.

 

Cheirinho a comida boa. Envolvente. E todos nós ali sentados em redor do lume, reconfortados, dentro da grande chaminé.

 

 Eu a queimar a ponta de uma pequena cavaca e a minha avó a repreender-me:

 

-Não faças isso! Quem brinca com o fogo faz xixi na cama.  

 

E eu a acreditar. As avós nunca mentem. E parava. Não queria molhar a cama.

 

Depois vinham as histórias de lobisomens que a minha avó Clementina contava convictamente, como ninguém.

 

 A sua voz mudava, com pausas e entoações, quando contava pormenorizadamente histórias como a do homem que virou lobo à meia-noite e que, atacando um cavaleiro este feriu o lobo na focinho. No dia seguinte o homem que na noite anterior atacara cavalo e cavaleiro ostentava um grande ferimento na face.

 

O melhor destas histórias, é que os protagonistas eram todos conhecidos, tudo gente da terra, o que emprestava a todas estas narrações uma total veracidade, envolvimento e proximidade.

 

E eu ficava de tal forma dividida entre o fascínio e o terror que de noite não conseguia dormir.

 

Mas na noite seguinte pedia outra. E a minha avó lá começava a contar…

 

As cozinhas de hoje em nada se parecem com as da minha infância. São mais assépticas e luminosas do que as de antigamente. Poderão ter outro conforto e funcionalidade.

 

Mas procuro que a minha, embora tão mas tão diferente, continue a ser o coração da casa, ponto de encontro, local de aconchego, de partilha, não só de refeições mas de conversas e de histórias.

 

E nada melhor do que fazê-lo em redor de uma fumegante chávena de chá, sobre as toalhas com rendas feitas pela minha mãe.

 

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Os panos da loiça da minha mãe

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Querida mãe

 

Vá lá, mãezinha, então? Não fique triste! Lá porque falei sobre os panos da loiça da avó, pensa que me esqueci dos seus? Que os seus panos da loiça estão em segundo plano na minha vida?

 

Como seria eu capaz de uma desfeita dessas?

 

Como seria isso possível se os panos da loiça feitos por si, ou seja, com rendas “crochetadas” por si, esvoaçam diariamente na minha cozinha e lhe conferem uma nota de cor e de alegria?

 

E se muitos mais panos, novinhos, ainda por estrear, aguardam na gaveta da cozinha o momento de verem a luz do dia?

 

Como poderia deixar cair no esquecimento os panos da loiça e panos de mãos a condizer feitos pela mãezinha que é conhecida pela rainha dos picôs?

 

Ei-los! Aqui estão eles, para a posteridade, a serem partilhados na blogosfera, pelo mundo inteiro, para que todos possam apreciar as suas mãos de fada.

 

Muito obrigada pelo carinho que colocou ao fazê-los assim como em tudo aquilo que sai das suas mãos.

 

A sua filha que gosta muito de si

 

Graça

 

PS: Quem é amiguinha, quem é?

 

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Duas echarpes separadas pelo tempo

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Com treze anos comprei o meu primeiro lenço. Depois deste outros se seguiram. Era muito friorenta, constipava-me facilmente, a garganta inflamava e sabia-me bem o aconchego de um lenço em redor do pescoço.

 

A seguir descubro as echarpes. E vou sempre comprando. Ora um lenço, ora uma echarpe…

 

E ao longo dos anos as gavetas e cabides vão-se enchendo de lenços e echarpes. Muitos, muitos, comprados por mim, outros oferecidos por familiares e amigos que conhecem esta minha paixão (mais uma!)


Gosto de ambos, lenços e echarpes pela utilidade que neles encontro mas também como acessório. São mesmo os meus acessórios predilectos. Prefiro-os aos colares, por exemplo.   

 
E aqui sou diferente do comum dos mortais. Ao contrário do que é habitual – escolher primeiramente a roupa que se vai vestir e, em seguida, procurar-se um lenço ou echarpe que se harmonize – eu começo por escolher o lenço. Ou a echarpe. Só depois é que abro o roupeiro e decido o que vestir em função do acessório escolhido.  

 

E a pouco e pouco, sem o ter premeditado, apercebo-me que, tal como colecciono postais românticos, também colecciono echarpes e lenços de pescoço.
Quando uma amiga me chamou a Imelba Marcos dos lenços fiquei de sobrolho carregado!!! Ora esta, não querem lá ver?!

 

Entre nós as duas há todo um universo de diferenças! Ora repare-se.

 

 A senhora, ou seja a Imelba, foi a primeira dama da Filipinas. Eu apenas sou a primeira dama cá de casa.  

 

A senhora, ou seja a Imelba, coleccionava sapatos. Eu apenas colecciono lenços e echarpes.

 

A senhora, ou seja a Imelba, tinha sapatos aos milhares. Fala-se em mais de três mil pares! Os meus lenços e echarpes não devem chegar à centena.

 

A senhora, ou seja a Imelba, tinha sapatos caríssimos. Os meus lenços e echarpes são baratinhos…

 


E, segundo consta, os sapatos da senhora, ou seja da Imelba, tiveram um triste fim, cobertos de bolor e carunchosos. Os meus lenços e echarpes continuam, todos eles de perfeita saúde, bonitinhos e perfumados. E ainda preservo o primeiro lenço dos meus treze anos.


De todas as echarpes, apenas duas são feitas por mim. A primeira fi-la aos dezassete anos. A segunda terminei-a há uns dois, três dias.

 

Décadas separam uma  da outra.

 

Ao finalizar esta última, penso escrever um post sobre elas e é então que, com surpresa,  constato que, embora usando técnicas deferentes, ou seja, a primeira em crochet e a última em tricot, elas são em tudo o mais muito semelhantes, apesar de haver  taaaaannnnntos anos a separá-las.

 
A mesma cor, amarela. E minha cor preferida. Desde sempre.

 

Ambas com uma barra mais fechada. Na primeira em cordão. Na segunda em liga.

 

Ambas com uma barra aberta. Na mais antiga, com anéis que fiz enrolando o fio ao dedo. Na mais recente, usando o ponto de carreiras abertas.

 

Que posso concluir?    

 

Várias décadas se passaram mas as mudanças em mim não foram tantas como eu própria poderia imaginar. Os mesmos gostos, os mesmos interesses continuam presentes.


Enfim, sou mesma Graça de sempre.

 

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Um saco super chique versus uma alcofa proletária

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Há uns três anos comprei uma alcofa. Simples, Sem quaisquer enfeites, limpinha. E barata. A finalidade era personalizá-la à minha maneira.


Fui buscar a caixa dos novelos de linhas de crochet, escolhi cores diversas, e fui fazendo rosetas ao sabor da inspiração do momento. A minha mãe deu uma ajuda.


Por fim, aplico as rosetas na alcofa, compro um galão com pompons e ficou pronta. Peça única.


Poucos dias depois fui de férias e a alcofa acompanhou-me. Com a toalha de praia, o protector solar e um livro para ler. De manhã ia para a praia, ao fim da tarde para a piscina do hotel. Ora aí, alapava sempre ao nosso lado a mesma  família – pai,  mãe e menina .


Tinham pronúncia do norte.


Ele, sempre agarrado ao telemóvel e aos negócios. Presumo que era empreiteiro, pelas conversas que ia ouvindo. Peço desculpa, não fiz de propósito, não tenho o hábito de escutar conversas alheias mas o homem falava alto.


Ela, toda finaça, toda marcas chiques, patenteando bem o alto estatuto a que pertenciam.


Ele, alheado de tudo o que se passava à sua volta. Os afazeres profissionais não o deixavam usufruir do sol, da água, da espreguiçadeira, das férias.


Ela, sempre a olhar para mim… Sim sempre a olhar para mim.


Sim, eu sei o que estão a pensar. “Se sabes que ela olhava para ti é porque tu também olhavas para ela!”… Pois… mas não era exactamente a mesma coisa… Ela olhava ostensivamente, directamente, descaradamente… enquanto eu olhava disfarçadamente… dissimuladamente, como quem não quer a coisa. Punha os óculos de sol do meu marido, fingia que lia e olhava pelo canto do olho. Qual agente secreto em acção!


É que eu estava intrigada, mesmo muito intrigada! Que interesse teria eu para aquela senhora?  


Quando queria chamar a minha atenção, porque me via mais entusiasmada com o livro que estava a ler e mais alheada do mundo à minha volta, a senhora tilintava as inúmeras pulseiras que trazia no pulso. Eu levantava a cabeça e uma vez captado o meu olhar, a senhora mexia e remexia ostensivamente no seu grande saco Louis Vuitton. Normalmente, nem tirava nem punha nada lá dentro. Só mexia no saco.   


Do alto da sua imponência lançava-me um olhar altivo e um sorrisinho sobranceiro mal dissimulado.  


Olhei-a mais atentamente. Afinal, o olhar da senhora não se centrava única e exclusivamente na minha pessoa. Ia oscilando de minha pessoa para a minha alcofa das rosetas.


Então fez-se luz!


A senhora estava incrédula que houvesse alguém, tão pelintra e com tão mau gosto que  usasse uma alcofa de palha com rosetas em crochet do tempo das nossas avós! Como é que eu ousava pisar o mesmo espaço se vivíamos em galáxias tão distantes? Enfim, eu era quase um extra-terrestre.

 
Todos os fins de tarde se foram passando assim, iguais, repetindo-se a cena ao longo da semana.  E cada uma ficou na sua. Ambas felizes e contentes com aquilo que somos e temos. Ela feliz e contente com o seu sofisticado saco, eu feliz e contente com a minha alcofa “made by Graça”.


Confesso que foram os fins de tarde à beira da piscina que até hoje mais me divertiram.


Acreditem, quem estivesse de lado a observar-nos fartar-se-ia de rir. Acho até que daria um filma cómico. Mudo!

 

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