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Um ar de sua Graça

Será que os Ojíbuas tinham razão?

Sinto uma atracção irresistível pelas gavetas e armários da minha mãe.


Abrir as gavetas das cómodas e as portas dos armários é um verdadeiro prazer para os sentidos.


A roupa, desde lençóis, lenços, toalhas de mesa, toalhas de banho, panos de cozinha, passando por roupa de vestir, tudo tem o seu sítio certo, milimetricamente arrumado, impecavelmente passado a ferro. Tudo muito direito, liso e macio.


O mesmo acontece com os mais variados objectos, passando por caixas e caixinhas de todos os tamanhos.

 

Para além do rigor da arrumação, então e o perfume que imana das cómodas e dos roupeiros? É de morrer de inveja! Embora eu use sabonetes iguais, saquinhos de alfazema colhida no mesmo local (o jardim da minha tia), as minhas gavetas não cheiram tão bem como as da minha mãe.


Não tenho outro remédio senão a resignação.


Mas o que é que as gavetas e armários da minha mãe têm a ver com os Ojíbuas? Têm tudo a ver. Ora vamos lá por partes.


Parte um: É que nos armários da minha mãe, dentro daquelas caixas e caixinhas há sempre tesourinhos a desvendar. Ao abri-las, parto para um mundo cheio de surpresas e potencialidades, qual criança à descoberta dos presentes escondidos, nas vésperas de Natal. Nessas caixas guardam-se sobras de bordado inglês, de galões com pompons, de galões com  franjinhas, de galões com flores, rendas amarelecidas pelo tempo, fitas de seda, bastidores. Amostras em crochet meticulosamente executadas pela minha mãe para futuras colchas ou toalhas, que a voracidade do tempo não permitiu concretizar.


Encontrar tudo isto foi quase como ganhar o euromilhões. Eu disse quase…


O que se pode criar com todo este manancial! Haja imaginação e tempo…!


Ora bem, é aqui que os Ojíbuas começam a aparecer.


Parte dois:  Mas quem são os Ojíbuas, perguntam.  


Os Ojíbuas eram um povo indígena da América do Norte. Tal como qualquer povo indígena, tinham uma forte ligação à natureza e à espiritualidade. Eles acreditavam que ao cair da noite o ar se enchia de sonhos. Uns eram bons outros maus. Então, achavam necessário separar os sonhos bons, portadores das boas energias dos sonhos maus, carregados de energias negativas.


Como é que os Ojíbuas faziam essa separação?


Construíam os filtros dos sonhos, também conhecidos pelos nomes de apanhadores de sonhos, caça sonhos ou ainda espanta pesadelos que tinham como função a captação das energias positivas, permitindo bons sonhos e dissipando os sonhos maus, os pesadelos, as energias maléficas. Construíam-nos com aros de salgueiro, revestiam-nos com tiras couro. A este aro ligavam vários fios que formavam uma espécie de teia de aranha. Penduravam outros fios nos quais enfiavam pequenas contas, e juntavam-lhes penas ou outros objectos a que atribuíssem algum significado.


Parte três: Presentemente os caça sonhos em versão contemporânea estão na moda. Encontram-se à venda em lojas, feiras de artesanato, encontramo-los em revistas de crochet, na internet.


Acho-os lindíssimos.


Parte quatro: E então… vou às caixas da minha mãe, olho todos aqueles tesouros e vou retirando bastidores, rosetas, fitas de seda, rendas e até um colar velho e algumas pérolas de um colar partido.

 

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Acrescentei algumas pedras que tinha cá em casa, uma chave velha da casa dos meus avós, um berlicoque de um fio.


Fiz três caça sonhos. Um para mim, outro para a minha filha e um terceiro para oferecer a uma amiga e do qual não tenho foto.


Não sei bem se os três caça sonhos estarão a cumprir a função para a qual os Ojíbuas os criaram. Pela parte que me toca, por vezes ainda tenho alguns pesadelos. Mas pelo menos cumprem a missão para a qual eu os concebi – embelezam a casa.

 

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