Duas echarpes separadas pelo tempo
Com treze anos comprei o meu primeiro lenço. Depois deste outros se seguiram. Era muito friorenta, constipava-me facilmente, a garganta inflamava e sabia-me bem o aconchego de um lenço em redor do pescoço.
A seguir descubro as echarpes. E vou sempre comprando. Ora um lenço, ora uma echarpe…
E ao longo dos anos as gavetas e cabides vão-se enchendo de lenços e echarpes. Muitos, muitos, comprados por mim, outros oferecidos por familiares e amigos que conhecem esta minha paixão (mais uma!)
Gosto de ambos, lenços e echarpes pela utilidade que neles encontro mas também como acessório. São mesmo os meus acessórios predilectos. Prefiro-os aos colares, por exemplo.
E aqui sou diferente do comum dos mortais. Ao contrário do que é habitual – escolher primeiramente a roupa que se vai vestir e, em seguida, procurar-se um lenço ou echarpe que se harmonize – eu começo por escolher o lenço. Ou a echarpe. Só depois é que abro o roupeiro e decido o que vestir em função do acessório escolhido.
E a pouco e pouco, sem o ter premeditado, apercebo-me que, tal como colecciono postais românticos, também colecciono echarpes e lenços de pescoço.
Quando uma amiga me chamou a Imelba Marcos dos lenços fiquei de sobrolho carregado!!! Ora esta, não querem lá ver?!
Entre nós as duas há todo um universo de diferenças! Ora repare-se.
A senhora, ou seja a Imelba, foi a primeira dama da Filipinas. Eu apenas sou a primeira dama cá de casa.
A senhora, ou seja a Imelba, coleccionava sapatos. Eu apenas colecciono lenços e echarpes.
A senhora, ou seja a Imelba, tinha sapatos aos milhares. Fala-se em mais de três mil pares! Os meus lenços e echarpes não devem chegar à centena.
A senhora, ou seja a Imelba, tinha sapatos caríssimos. Os meus lenços e echarpes são baratinhos…
E, segundo consta, os sapatos da senhora, ou seja da Imelba, tiveram um triste fim, cobertos de bolor e carunchosos. Os meus lenços e echarpes continuam, todos eles de perfeita saúde, bonitinhos e perfumados. E ainda preservo o primeiro lenço dos meus treze anos.
De todas as echarpes, apenas duas são feitas por mim. A primeira fi-la aos dezassete anos. A segunda terminei-a há uns dois, três dias.
Décadas separam uma da outra.
Ao finalizar esta última, penso escrever um post sobre elas e é então que, com surpresa, constato que, embora usando técnicas deferentes, ou seja, a primeira em crochet e a última em tricot, elas são em tudo o mais muito semelhantes, apesar de haver taaaaannnnntos anos a separá-las.
A mesma cor, amarela. E minha cor preferida. Desde sempre.
Ambas com uma barra mais fechada. Na primeira em cordão. Na segunda em liga.
Ambas com uma barra aberta. Na mais antiga, com anéis que fiz enrolando o fio ao dedo. Na mais recente, usando o ponto de carreiras abertas.
Que posso concluir?
Várias décadas se passaram mas as mudanças em mim não foram tantas como eu própria poderia imaginar. Os mesmos gostos, os mesmos interesses continuam presentes.
Enfim, sou mesma Graça de sempre.
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